Damos início às comemorações dos 30 anos da Associação Portuguesa de Estudantes Florestais (APEF), com a publicação da entrevista concedida pelo senhor Secretário de Estado das Floresta e do Desenvolvimento Rural (SEFDR), Miguel João de Freitas, durante o VIII Congresso Florestal Nacional realizado no mês de Outubro.
"APEF: Qual a importância de associações jovens como a APEF, para a nossa floresta?
SEFDR: As associações jovens, são muito importante porque é preciso que haja inovação e visão de futuro, e isso só elas é que podem fazer!
APEF: Consegue descrever o estado da floresta portuguesa?
SEFDR: O Estado da Floresta Portuguesa, o estado da floresta portuguesa é muito complicado porque cometemos erros. Erros esses que não nos permitem olhar para o futuro com optimismo mas sim com uma perspectiva de que temos de mudar. Primeiro porque fizemos monocultura, isto é, temos uma parte importante do país com este tipo de ocupação, monoculturas essas que são compostas por espécies que são muito propícias ao fogo. Não fomos capazes de pensar como é que essas monoculturas teriam de se inserir numa espécie de mosaico agroflorestal. Segundo, porque em alguns espaços criámos consociações. Consociações essas que perderam valor, o mercado não remunera tendo então de ser remuneradas de outra forma.
• Exemplo: o Terra quente transmontana, temos uma consociação de sobreiro com cupressos, o cupressos não serve do ponto de vista económico. Só ao final de 20 anos é que chegamos à conclusão que temos de reconverter este sistema.
Com isto quero dizer que cada realidade é uma realidade, e todas precisam de ser mexidas, sendo necessário que as políticas sejam capazes de olhar para o estado da floresta portuguesa, na sua realidade própria. E é isso que estamos a tentar fazer, a regionalizar, isto é, adequar as medidas à realidade.
APEF: Qual a sua visão futura?
SEFDR: Temos de traçar como um objectivo claro, uma floresta que seja capaz de, para além de gerar aquilo que são chamados de bens transacionáveis, ser também remunerada pelos bens públicos. Se não for remunerada por estes bens públicos, não irá gerar valor para os produtores florestais levando a que estes abandonem cada vez mais a floresta. Sendo este abandono a questão que realmente precisamos de combater. Combate-se alargando os parceiros da floresta, isto é, os municípios. Os municípios têm olhado muito para o espaço urbano e têm de olhar mais para o espaço rural, e para a floresta nesse espaço rural dando o seu contributo com os instrumentos de política de que eles próprios dispõem para melhorar a floresta no concreto. Para além disto, os municípios têm de se associar, isto é, não pode ser uma politica de município, mas sim uma com visão conjunta porque o fogo não escolhe municípios. Precisando a floresta de acção musculada. Esta acção deve estar enquadrada num modelo que englobe a escala do planeamento, municípios, e a escala da gestão, que compreende os produtores, associações, baldios, et cetera. A imagem do labirinto é a imagem certa, não para nos perdermos lá dentro mas para encontrarmos a saída.
APEF: O que tem a dizer em relação à inovação em Portugal?
SEFDR: A questão da inovação, em Portugal andamos a descapitalizar tudo aquilo que eram instituições públicas ligadas à floresta, todas fragilizadas, todas com menos pessoal. E portanto, essa descapitalização precisa de ser repensada e a única forma que eu encontro para repensar isto é juntar, ou seja, as pessoas que trabalham nas universidades, as pessoas que trabalham nos laboratórios do estado, os técnicos que trabalham nas associações e instituições deveriam ser juntos e criar os chamados sistemas locais de inovação. E estas pessoas não têm de ser florestais, podem ser bioquímicos, podem ser biólogos, et cetera e têm de ser trazidos para a floresta.
APEF: Pode deixar alguma mensagem aos jovens da área florestal?
SEFDR: Aos jovens apenas digo que estejam atentos, vêm aí muitas oportunidades."